Quando estava na oitava série (do ginásio, assim chamava-se), fui convidado por um grande e generoso amigo chamado Luís Carlos Barros, a passar férias na cidade de Penalva. Antes de tudo, digo: foram as férias mais lindas de minha vida. Pelo inusitado (eu era um adolescente da Capital) e por tudo que curti e aprendi.
De entrada, me fascinava o nome da cidade (prova de que esse tipo de coisa nunca me passou em branco). Penalva. Seria pena alva? E isso já me fazia viajar. Quando conheci a pequena cidade, então, tudo virou fantasia.
Havia um grande grupo de filhos e filhas da terra que estudavam em São Luís. Esse grupo não deixava de passar as férias na cidade. E virava uma grande festa, mesmo na precariedade de então. Por exemplo: às 22h a cidade ficava sem energia. Mas isso me jogou nas serenatas. E como Luís Carlos tocasse violão (ele e a irmā Sónia), comecei a me interessar pelo instrumento.
Em São Luís, eu e meus amigos de Colégio Batista só queríamos saber de Caetano Veloso, Gil e Chico Buarque, para só ficar nesses exemplos. E Penalva me jogou nos braços de Benito di Paula, Fernando Mendes e José Augusto. Até então esses três faziam parte do mundo brega, sem que essa palavra fosse usada. Uma bobagem enorme, Caetano me diria muitos e muitos anos depois.
Ao escrever uma carta a uma querida amiga poeta, há poucos dias, o fiz ao som de Fernando Mendes na voz de Caetano Veloso (que descobri sem querer na internet). E todo um passado se fez presente. Penalva saltou e se instalou no computador. Senti uma saudade imensa, como jamais sentira. Uma saudade de Luis que era um goleiro fabuloso (de futebol, de futebol de salão e de handebol), da linda casa deles no fim de uma rua que dava para o campo (e no inverno, para o rio), do humorado avõ dele, de todas as namoradas que tive naquele período e de tantas coisas que não devo nomear para que tudo não resulte em possíveis pieguismos.
Depois de morar em São Paulo e no Rio, já morando em São Luís, fui fazer reportagens em 29 municipios do Maranhão, entre eles Penalva. Ao sair da cidade, bem, senti a maior tristeza de minha vida: a cidade, claro, não era mais a cidade de meus 14 anos, não havia Fernando Mendes, a cidade muito simples me pareceu muito pobre e, sobretudo, não havia ali aquelas pessoas que tocaram na minha vida. Fui tomado por um vazio tão grande que não tenho palavras para explicar.
Um vazio que foi preenchido ao ouvir Caetano cantando “Você não me ensinou a te esquecer”. Só que, como disse Drummond, mas como dói!
Postado em Política, por Roberto Kenard Assuntos: Caetano Veloso, Chico Buarque, Fernando Mendes, Gilberto Gil, José Augusto, Música, Penalval, Rio de Janeiro, São Luís, São Paulo
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“Lembranças”
Urrou, urrou, meu novilho brasileiro, que a natureza criou (Coxinho).É tempo de Guarnicê. Durante o São João, a saudade aperta o peito. Lembranças de quem