Ilha de Formoso se desloca
Fenômeno ainda não foi estudado, mas gera lendas e mistérios
Logo que a reportagem de O Estado ouviu a conversa pensou tratar-se de mais uma mentira de pescador. Mas depois de uma viagem de três horas de barco, a Ilha de Formoso, em Penalva, anda mesmo:. Um estranho e ainda pouco estudado fenômeno da natureza, que intriga há décadas os penalvenses, faz com que uma “ilha” navegue dentro de um lago cerca de dez vezes maior que a Lagoa da Jansen, em São Luís.
O conglomerado de terra e plantas passeia dentro do lago da esquerda para direita, de cima para baixo, contra ou a favor do vento. Para conhecer esse estranho fenômeno natural, que só existe no Maranhão, é preciso alugar um barco no porto de Penalva (185 km a sudoeste de São Luís) e seguir três horas rio adentro.
No caminho uma paisagem que se assemelha ao Pantanal, onde podem ser vistas jaçanãs, gaviões, jacus e diversos outros tipos de aves da região. Durante o trajeto passa-se por uma área de mata fechada e tem-se de abrir ‘picadas’ sobre a água para que o barco siga viagem.
VERÃO Isso acontece porque no verão todo aquele mar de água doce seca, exibindo com mais destaque a exuberante vegetação da região. No inverno, as árvores ficam encobertas até quase a copa e se transformam em perigo aos navegantes. A Ilha de Formoso, na verdade um conjunto de seis ilhas grandes e várias ilhotas, localizadas no lago de mesmo nome, navega numa velocidade impressionante. A reportagem quase foi surpreendida pelo fenômeno ao chegar ao povoado Caititu, onde iria conversar com os pescadores e moradores sobre as lendas e mistérios que rondam a ilha.
O barco que levava os repórteres chegou sem problemas ao acanhado porto do povoado depois de passar por uma abertura de aproximadamente 50 metros entre uma das ilhas e a margem do lago. Num período de aproximadamente meia hora, enquanto conversávamos com os pescadores, a ilha se deslocou para a margem e fechou a passagem por onde o barco havia passado.
DESLOCAMENTO – Era a prova: a Ilha de Formoso anda mesmo. A saída foi procurar uma rota alternativa passando pelo outro lado da ilha. Formoso também fecha a entra- da do lago, interrompendo por até cinco dias sua travessia.
O lavrador Gregório Sousa conta que teve sorte, pois há casos que a ilha fecha toda a entrada do porto, deixando a comunidade isolada por até cinco dias. Morador de Caititu, ele conta que Formoso causa diversos prejuízos à comunidade e pescadores porque ao se movimentar, arrasta redes, tarrafas e árvores, ao se aproximar dos povoados.
Na ilha existem muitas palmeiras – buritizeiros e juçarais, principalmente e animais como macacos-prego, pacas, jabutis, jacarés e as perigosas cobras sucuri.
O solo de Formoso não é firme. É formado por restos e raízes de plantas e material orgânico. Ao tentar se apoiar com o pé, a pessoa pode afundar e ir parar embaixo da ilha. Lá, com certeza, servirá de refeição para as cobras e jacarés.
O local é cheio de ‘forjas’, como a comunidade local denomina buracos às vezes cobertos por samambaias, que se transformam em armadilhas para os visitantes. Quem cair em um buraco desse vai parar embaixo da ilha. Ao longo dos anos Formoso vem incorporando material ao seu território e crescendo.
